terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Derrota, reencontro de amigos!










VALEU! ATÉ A PRÓXIMA!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bom dia, meu filho.







Bom dia, meu filho.

Hoje resolvi supreender-te deixando na gaveta do seu escritório esta carta, contendo expressões de um amor profundo que guardo em meu peito.



Ao acordar, recordei-me daquela madrugada há 32 anos atrás, onde corri apressadamente até a maternidade, onde estava a sua mãe, sentindo as primeiras contrações uterinas que anunciavam a sua chegada. Eu estava muito nervoso, explodindo internamente de tanta ansiedade, apreensão... Porém tanta ânsia não fora capaz de me tirar a atenção para o seu primeiro choro, quando começava a sua história de vida. Fora o choro mais lindo que tinha visto até então, me trazendo alívio, felicidade, emoção.




Também está gravado nitidamente na minha memória, a primeira vez em que sua mãe te segurou nos braços, lembro do sorriso dela, junto com seus olhos que lacrimejavam rios de emoção. E você, instintivamente procurou os seios dela, que naquele momento era o único ato que poderia ser feito e que viesse a acalmar aquele seu choro desesperado. Como se estivesse com medo do seu novo mundo, ali nos braços dela, você se sentia seguro, forte, inatingível.

Alimentado com muito amor, você foi crescendo, e de presente ganhou o seu primeiro caderno, e ele, naquele instante passara a ser seu companheiro inseparável no seu mais novo desafio que era enfrentar o mundo na escola. E foi nele que fez suas primeiras obras de arte. Inicialmente, rabiscos indistinguíveis, mas que você mesmo os batizava de “papai” e “mamãe”. Qualquer um que olhasse aquelas figuras poderia dizer que ali se encontravam apenas rabiscos, mas eu não! Eu os olhava fixamente e conseguia enxergar nossos rostos desenhados tão perfeitamente nos traços tortos naquele papel.

Suas técnicas e seus dons artísticos foram se aprimorando, e com o passar dos meses você deixou de desenhar “mamãe” e “papai” e trouxe para seu repertório artístico as montanhas, a casinha com chaminé, no alto duas nuvens e um sol forte, grande e sorridente, e um pequeno passarinho desenhado usando a letra “u”.

Como sou e sempre fui seu amigo, conseguia tempo para te ajudar com as lições de casa. E foi aí que nós três (sua mãe, seu caderno e eu) pudemos te ajudar e dar uma das mais importantes lições de vida que você leva ate hoje. Ao fazer as lições de casa de modo equivocado, pacientemente mostrávamos como você podia acertar e oferecíamos a próxima pagina do seu caderno como uma nova oportunidade de corrigir. E você aprendeu, meu filho! Aprendeu que devemos enxergar nos nossos erros uma nova oportunidade de acertar, e aprendeu que o dia de amanhã é sempre igual a nova página do seu caderno que lhe é oferecida todos os dias, a fim de que melhore, cresça... aprendeu da maneira mais saudável que os erros devem ser vistos como fontes e oportunidades de melhora, e não como fontes de culpa, dor, remorso. Hoje você reconhece que a experiência do errar é talvez a mais importante pela qual deve passar nossa raça, que é ela que nos trás o crescimento, o amadurecimento, é ela que nos mostra nossas fraquezas e aponta as direções que devemos tomar para corrigirmos nossas falhas, é a experiência dos erros que nos aproxima cada vez mais do nosso pai, criador. E graças a tudo isso, hoje você se tornou um homem, um pai, a pessoa presente neste universo pela qual eu tenho minha maior admiração e respeito. Não só por ser o meu filho, mas por ter se tornado esse ser humano que é. Um pai zeloso, educador competente, bom marido, humano!

Com apenas 8 anos de idade você já me proporcionava um dos momentos que eu mais esperei durante minha vida: ir contigo ao Batistão. Recordo-me como se fosse hoje, aquelas memoráveis tardes de domingo, quando você, sua mãe e eu íamos juntos para o Batistão. E você fardado, uma camisa vermelha com os dizeres atrás: “Gipão, você mora em meu coração”. Foi ali que você aprendeu alguns dos seus primeiros palavrões, mas quem nessa vida não xinga que atire a primeira pedra (de preferência no juiz). E naquele mesmo ano nosso time chegou até a final, mas pra variar perdemos. Você ainda não estava acostumado com a derrota, e o caminho de volta pra casa foi um pouco difícil. Dentro do carro você tentava segurar o choro, mas com o passar dos instantes as lágrimas iam descendo uma a uma. Sua mãe virava para você no banco de trás e tentava te consolar, mostrando pra você que derrotas fazem parte da vida e que o importante é ter força para reerguer-se, levantar-se, ir adiante!!! Foi difícil pra você absorver aquilo, porque em cada parada de sinal nós cruzávamos com torcedores rivais e você os via festejando e sentia uma pontinha de inveja. Mas o importante são as lições. Aprender que nos fortalecemos com a derrota foi o fator principal que você absorveu daquele dia. E por ter entendido que as derrotas fazem parte da vida, você teve forças para continuar seus estudos mesmo depois de ter passado pela sua primeira e pior decepção amorosa com sua primeira namorada (alguns anos mais tarde). Afinal, naquela altura do campeonato, mesmo com pouca idade, você já entendia que é no fracasso que nos fortalecemos. E então, tocou sua vida adiante, e da melhor maneira.

Meu filho, poucos homens neste mundo podem ter o privilégio de partir daqui com a certeza e sensação de dever cumprido. Hoje olho para você, vejo a família que construiu, vejo os valores que transmite, e posso dizer com todo orgulho e satisfação do mundo que minha missão aqui na terra está completa. Já posso ir-me embora, com a convicção de chegar diante do criador e saber que tive minha parcela de contribuição no ser humano que se tornou. Graças a sua existência eu posso dizer que eu vivi e não apenas passei pela vida. Eu te amo, meu filho, Deus o abençoe.